Está chegando a hora?


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Mesmo após quatro anos de existência dos podcast as pessoas ainda se espantam quando descobrem que sou podcaster. Primeiro me questionam sobre o que é podcast... e na maioria das vezes complementam com aquelas perguntas típicas "o que você tá ganhando com isso? isso não é pura perda de tempo, não?” Mas como há vida inteligente no universo, alguns, de modo muito pertinente, se interessam em como eu me sinto envolvido com esse processo e querem que eu explique porque SOU podcaster.
A esses eu respondo, simplesmente: eu fui feito pra isso! Adoro ler, estudar, raciocinar, escrever e falar sobre assuntos variados. E complemento, a voz humana é definitivamente algo mágico... muito mais que a imagem, cuja característica principal é eminentemente interpretativa. A imagem age em um nível muito mais íntimo, incontrolável, ela age no subjetivo. A voz não! Ela vai direto ao cérebro! O reflexo é a análise objetiva e instantânea, executada apenas por aquele que ouve.
Assim, a possibilidade de colocar tudo isso junto com um fator que para mim - este serzinho egoisticamente humano - é o mais importante, ou seja, o absoluto controle sobre todas as etapas do processo de criação, gravação e distribuição, me atraiu imediatamente. A possibilidade de eu poder colocar minha voz, minhas idéias e opiniões ao alcance do mundo, através de um esforço medíocre, me seduziu de imediato.
Fique bem claro: não desejo conquistar ninguém, apenas busco divulgar minhas observações sobre o mundo que me cerca e como eu o vejo... Ok, alguns vão dizer que sacrifico a interação, a reciprocidade argumentativa, mas o intuito é este mesmo: no podcast eu compartilho meu ponto de vista. Nos voip, instant messengers e micro-bloggings da vida eu interajo digitalmente... Ah, um aviso aos navegantes eu prefiro a interação real. Uma mesa, comes e bebes e um bom bate-papo é um bálsamo para o cérebro!!!
Descobri há um ano mais ou menos atrás que um radialista reproduz em formato de podcast seu programa de 30 minutos numa rádio paulista - e olha a coincidência! - o Luciano Pires é da minha idade e natural da região do interior paulista onde possuo também raízes familiares e de formação universitária. A nossa proximidade vai além disso, o núcleo do seu programa - Café Brasil - é muito próximo do meu Impressões Digitais. E aí, creio que, por possuírmos o mesmo repertório histórico-cultural, os produtos são semelhantes.
E abordo este assunto para lembrar que podcast NÃO é programa de radio-difusão. Eles possuem uma diferença nuclear. O podcast é algo completo, se encerra em si. Possui um caráter atemporal. Eu pelo menos creio que se você datar o assunto do podcast, bastam algumas semanas para que ele deixar de ser útil... A rádio-difusão é o veículo perfeito para notícias, para colocar o ouvinte em contato com fatos distantes e para o real-time.
O rádio pode ensinar muita coisa aos podcasters. A principal delas é o que NÃO devemos fazer. O rádio - como ferramenta de comunicação comercial - possui uma formatação massiva, embalada, padronizada, atrelada às condicionantes comerciais-financeiras da empresa controladora, transformando o radialista atual em apenas um profissional treinado para a função, focado no objetivo da empresa, que é apenas auferir lucro.
Você, idealista, perguntaria: e onde fica o conteúdo? Ára! Conteúdo? pára com isso, afinal “a voz do povo é a voz de Deus... Ao povo o que é do povo... Ao povo? Pão e circo!” etc. O artificialismo da rádio comercial conseguiu dar aos podcasters uma grande ajuda... quem nos ouve sabe que somos autênticos (Ao menos por enquanto. Já tem podcaster por aí querendo ser radialista... mas isso é outra história).
Ah... peraí... não podemos deixar a radiofonia nessa pindaíba, né!? Ela nos deu, principalmente, toda a parte técnica, de produção, de qualidade de áudio e nos deixou totalmente formatadas suas capacidades e possibilidades formais. Lembro que no quesito informação em tempo real, ela ainda é imbatível... Se bem que a dupla twitter-RSS têm se mostrado, utlimamente, adversários a altura.
Uma outra diferença fundamental é o modelo de distribuição. Na rádio-difusão os custos são descolados da audiência, se houver um ou um milhão de ouvintes a distribuição custa exatamente a mesma coisa; no podcasting pagamos a cada novo ouvinte. Uma outra diferença significante - a qual espero desaareça rapidamente - é total falta de respeito das agências de publicidade para com o podcasting, mesmo ele sendo potencialmente a mídia mais poderosa para atingir mercados exclusivos, daqueles que buscam a informação e são formadores e multiplicadores de opinião.
O modelo comercial mais próximo que vejo para a modelagem do podcasting é o praticado pelas revistas especializadas, e quando o mercado publicitário perceber este modelo, tenho certeza, vamos arrebentar a boca do balão, deixando as rádios em maus lençóis. A associação estado-unidense de radio-difusão em seu encontro agora em abril debateu profundamente o impacto do podcasting em seu modelo de negócios. E quando uma indústria destas da sinal de incômodo isso quer dizer que nós podemos realmente concorrer com o rádio e nos considerar mídia de fato.
O que me leva a observar que temos que urgentemente tornar o podcast em algo realmente disponível a todos. Este é o desafio atual, fazê-lo mais fácil, mais acessível, enfim, sensibilizar um público maior para as suas vantagens, sua variedade de conteúdo e de como é simples tê-lo à disposição no computador, no mp3 player e no celular.
Aproveito para me posicionar naquilo que alguns chamam de redes de podcasts. Apesar destas possuirem evidente sinergia quando se trata de recursos de produção ou publicidade devido ao ganho de escala que se alcança, apesar delas evitarem desgastes na criação, armazenamento, distribuição, e principalmente, marketing, creio que o caráter do one-man-show é imprescindível para garantir a independência do conteúdo e a riqueza desta mídia.
Afinal não é necessária uma qualidade sonora impecável, ou uma voz excepcional para um podcast dar certo e ser um sucesso. Basta um conteúdo honesto, interessante, e total comprometimento do podcaster com seu ouvinte. Sem estes dois elementos (conteúdo e comprometimento) o personagem principal do podcast - o Ouvinte - não existe, e podcast não tem sentido algum, e será apenas uma porção a mais de bits ocupando espaço na internet.

Sérgio Vieira - autor deste artigo, apesar de estar em sua sexta década de vida, ainda tem paciência para explicar os caminhos do podcasting.

http://impressoes.vocepod.com
idigitais@gmail.com

Comentários

Maestro Billy disse…
Sou seu fã.
VDS rules !
Excelente explicação.
Abraços.

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